domingo, 21 de dezembro de 2008

AUTO BIOGRAFIA PRECOCE DA ESTERILIDADE


Inácio Frota

MISSÃO: O primeiro bêbado no espaço

Essa é a maldita rotina, né trabalhador?
Todo dia passo nesse mesmo horário
E você está ai sentado, fardado.
O tempo está parado para nós dois.

Posso te contar uma historia?
Existe uma mulher na qual
Já fui casado que...
Enfim, transplantaram o cérebro dela.
Ela tem experiência de morte!

Já me vi morrendo na televisão,
Em alguma cidade do nordeste.
Eu estava lá para pular em queda livre.
Eu vi pela tv que a corda estava solta.
Me vi parado no chão e também muito sangue.

Recebi uma passagem de avião
Na tarde desse dia. Mostrei para minha mulher.
Ela cobiçou a passagem,
E assim eu disse para ela:
Eu não posso esquecer que já fui cobrado
Para ter minha vida própria... Minha liberdade!

Tenho um amigo que se auto-operou.
Aplicou anestesia local em sua barriga.
E mandou ver!
Puxou seu coração com a mão trêmula,
Sentiu aquele órgão pulsar.
Faltou forças para cortar as artérias.
Ele foi socorrido e está bem.

Quinta-feira chuvosa!
Hoje eu acordei de ressaca.
Um dia perfeito
Para faltar energia.
Eles também falham!

Eu e mais algumas pessoas
Estamos construindo um foguete,
Nossa intenção é mandarmos
O primeiro bêbado para o espaço.
Lááááááá no céu!
Dinamite propulsora!
Explosão de gases nervosos!
Tecnologia espiritual!

Você gosta de artes
Ou gosta de fazer artes?
Uma fotografia me chamou a atenção...
Uma imagem que eu poderia ver todo dia.

Uma música me chamou a atenção...
Exalando sensações que eu sinto todo dia.

Um filme me chamou a atenção...
Com uma história que eu poderia viver.

Tudo à nossa volta é tão complexo, tão complicado,
Tão real, que necessitamos limitar... pôr moldura... entende?

Um dia desse estava tudo tão lento.
O beijo vinha com delicadeza,
O sorriso gentil iluminado com luzes coloridas.
O caleidoscópio ainda tem utilidades!

Outro dia foi tão intenso
E tenho pouca memória para lembrar tudo.
É perfeito assim... esquecer quem sou!
Com um cheiro sônico
Num espírito turbulento
Para lembrar aquela
Sensação de ser uma garrafa vazia.
Juventude insana!
Cervejas suspensas!
Mote no povo que digladia!

Ontem fui trabalhar
E me vi com a moto-serra nas mãos.
Um burguês e uma puta para matar.
O cara é japa e feio.
Ela é linda e brasileira.
Ele tem um carrão amarelo.
A roupa dela combina com a cor do carro.
Gostaria de estar sempre chapado!

Meus bens são a dissipação,
A limitação da realidade,
A supressão de informações inúteis!
Sua rota chegou!
(Até amanhã maldito).


Apresentação da ESTERILIDADE I

A amargura, escuridão, angústia e morte
Vinculam-se ao presente.
No futuro a lembrança
Do que seria um suicídio
Ou uma nostalgia matutina!

As folhas mais vivas que nunca;
Vermelhas, roxas, amarelas...
Estáticas na relatividade.
Ao meio de tudo isso
O passado vem como uma criança ingênua que ri!

(Eu estava esperando, prudente).
Que me importa os pássaros mais belos,
As flores, as folhas, os quintais,
A coerência da matemática,
As reações químicas cerebrais,
A luta do coração pela vida,
A mãe que ama insuportavelmente os filhos...
O que tem de nascer nasce.
O que tem de morrer morre.

O meu pai diz: seque meu filho...
Colhendo tuas expressões vulgares!
Se você é um homem sério
Eu corro para te ver nesse
Teu abismo que nunca vais me explicar.

Como todo ser livre
Não tenho rumo.
Posso acreditar nisso!
Não pretendo saber verdades.
Posso acreditar no que ela me diz!
Os vigores saltam!
Mas dizem: Isso tudo não tem sentido.
Os vigores saltam para outra dimensão!
Mas dizem: Faça algo diferente,
Contribua com a evolução da humanidade.
Os vigores saltam!
Mas perguntam: qual a sua nova dor
Que ninguém ainda experimentou?

Ela está aqui por uma questão de diversão e sanidade...
E ela não sabe que estou sempre próximo.
Às vezes penso que está sempre chapada!
Finge mil manias humanistas!
No outro dia ela disse:
Hoje não vou agir com a razão!
Ela sabe que tem o direito e o poder...

Seu filho nasceu! Assim disse a enfermeira ao telefone.
O meu projeto de vida aparece chorando,
O vejo pelo vidro coberto por panos brancos.
Posso imaginar isso sentado aqui no meu sofá.

Essa Autobiografia precoce da esterilidade
Começa aqui,
Com uma pitada de sal,
Tudo se repetindo,
Com um sentimento de vício,
Com um mundo coberto
Na imensidão do caos natural,
Com nada de novo novamente!

Ele vem de novo trazendo informações inúteis,
Noticiários, propagandas, novas leis...
Hoje não tenho mais o que fazer,
Mas eu não preciso saber de tudo isso.
Meu prazer é beber em dia de eleição...
Estou nessa luta onde se deve entorpecer os sentidos.

Seja marginal!
Sempre marginal!

Sempre nessa poesia,
Que é uma constante insistência em humanidade!
Com nada de novo novamente...
Nenhuma nova dor!
Sempre marginal!
Sempre resgatando as necessidades primitivas.
Distante das necessidades inventadas.
Primitivo, Rude e assassino.



Apresentação da ESTERILIDADE II


Injetando dinheiro na economia underground


A esterilidade é inevitável e constante.
Quando aceita,
Vive-se dentro dela,
Investindo na economia underground.
Tudo o que se faz sóbrio já foi feito.
Somente ela nos comporta.
Sempre dizendo sim.
Vamos nessa!
Quem é mestre pode dar porrada,
Mas na esterilidade todos estão para lutar!
Ao contrário, ninguém aqui tem vida fácil;
O negócio na esterilidade é doação de vida.
Na esterilidade injeta-se dinheiro na economia underground.
Cada ser vivo é uma personalidade de deus,
Um alter ego.
Cada ser vivo habita nesse universo
Que varia entre o interior
Do cérebro e do coração do supremo.
(Filho, eu não posso brincar
Nesse momento...
A porrada é constante).


Apresentação da ESTERILIDADE III

Teoria do tudo

Ao norte está o caminho estreito.
Ao sul o caminho largo.
Ao leste tem-se o portão de acesso à justiça
Com o guardião.
Ao oeste a estrada aberta da esterilidade.
Entrando na esterilidade
Encontra-se logo na primeira coisa
A teoria do tudo.
A esterilidade comporta o tudo.
Lá, e somente lá,
Qualquer marginal tem infinitas teorias
Para explicar ações
E defender a razão.



Primeira Parte:

Freqüência de ressonância

( No momento em que a freqüência interior do marginal entra em ressonância com a freqüência do mundo, algo pode acontecer... como uma taça de cristal, como uma janela de vidro, como uma ponte mal planejada )...



Freqüência do coração de Deus


Para vibrar como três ondas mecânicas, em fúria, vão e vem e alternam em descontinuidade freqüências, timbres e intensidades.
O tempo vibra na freqüência do coração do Deus, Sequeciona e pulsiona eventos de fluidos, sangues vermelhos e azuis, urinas e neurônios, licor e vinho, sêmem e adrenalina por um fio semicondutor, talvez um intestino; jogando para o cosmo o que não absorve.



Viver é uma droga legalizada


Viver é uma droga legalizada.
Entorpece a ultra-sensibilidade subjetiva
De ser a falta de angústia.

Viver é uma droga legalizada.
Estimula um sistema de defesa
Preservando o vício de sobrevivência.

Viver é uma droga legalizada.
Turva a percepção do iminente estado
De preservar-se além desse trivial estar dopado.



Estrutura Caótica

Sua estrutura caótica está próxima à perfeição.
Poucos segundos para entrar em ressonância com Deus.
Diríamos que faltam poucos segundos de catarse
Para sua apocalíptica integração ao vigor agnicional.
Cuidado!
Seu organismo é frágil.
MúsicaTimbreFreqüênciaIntencidadeRessonânciaNaturezaCABAL
Natureza Cabal!

Sua estrutura atômica fragmentou-se
Como um cristal.
Espalhando radiação entre os vivos.
Como um tiro em seu crânio
Pode revoltar a massa?
Choros, orações e cantos fúnebres agoniam a Morte.
E desaceleram a economia nacional!

Sinto agora sua poeira em minha respiração.

Meu corpo é um algoritmo de morte.
Sob cabala necrobiótica.

Tenho medo de perder o que me é dado na seletividade.
Ainda não posso tomar nenhuma decisão mortal;
Posso ter má formação de estrutura neural.
Resgato o que tenho de vontade de poder...
É apenas uma má formação de estrutura psicológica!

Mutável...
cedível...
vulnerável...
Amputável...
Mutilada...
Atrofiada...

Sou excêntrico;
Procurando trazer o centro para
O interior da minha estrutura celular e atômica.

Canção é uma onda mecânica
Que vibra nesse espaço atmosférico
Em conflito com minhas células,
Que vibra em massa acústica
E sensivelmente leva porrada.

Um bom ser

Entre eles, conheço um bom ser, que vive por que tem fé, que não mata por que não tem ódio, que não morre por que ainda é cedo, e que não se suicida por que tem esperança, mas é uma espécie de ser que se mata em freqüência do tempo e espera o ômega em uma adega preparando o vinho para a ceia do natal. Ocupado com seu psicoanaléptico marca-passo, seus neurônios organizam circuitos em progresso de incomplexidade, aprazem a esperança dessas células, em ser o último neurônio desse crânio humano.
Ponto final. Término de um texto qualquer, nesse em especial é a morte do último neurônio de uma pessoa importante, possuidor de uma basta experiência de vida e educação de boa família.
À parte disso, em seus 27 anos, era medroso e sabia que livres são os loucos, excêntricos e temia a marginalização, pois gostava de ser elogiado pelos outros e observado pelas mulheres.
Assim ele falou: hoje estou feliz!
Encontrou em seu hermético mundo a felicidade. A felicidade de espécie contemplativa. Deixou fora de si tudo o que era energético; deixou fora de si as músicas vibrantes; deixou fora de si as danças voluptuosas; deixou fora de si tudo o que aguça os sentimentos; deixou fora de si sua própria morte; deixou para fora de si a intranqüilidade. Encontrou em seu hermético mundo a felicidade. A felicidade de espécie contemplativa. E sorria enquanto angustiava em vigor juvenil.
Assim ele falava: hoje, estou ancião!
Assim ele pensava: hoje, estou castrado!
(...)
Como em todos os seus anos, aos 39, procurava redefinir sua vida, pois em sua inquietação interior, não sabia ver sentido no que fazia. Pelo menos era o que falava enquanto bebia vinho, depois de um dia inteiro servindo os outros.
Ocioso aos 73 anos, esperava o dia do seu benefício, ia ao banco e na fila dos aposentados esperava sua vez. Na cadeira de balaço, lembra sua vida. Vai e depois volta e volta de novo, insiste, volta mais... Lembra... A cadeira parou; lembra e balança, vai e volta... Vai e em Ressonância vai mais uma vez... Pára!
Desligaram-se três vertentes da natureza de um sistema humano: razão, sensibilidade e vontade.


Infância Perfeita

Infância lembra saudades! Tudo o que eu poderia ser... Tudo o que quero agora... Tudo o que poderia se formar em mim... Dê-me uma infância diferente que eu poderia ter força para destruir o mundo e construir outro.
À parte isso! Em flash, quando a vejo cruzar os braços enquanto sorri sutilmente, sei que, você, que amo, lembra em mim o que é perfeito. Seus pulsos nervosos de angústia contraem seus músculos corporais, os faciais e também as cordas vocais. Ela descruza os braços, acena de longe e sorri sutilmente. Suas cordas vocais estimuladas pela angústia vibram agora mais altas, logo, sente-se uma onda mecânica: Oi!

Talvez seja má formação de sua teia neural os pensamentos obscuros que lhe perturbam a concentração, talvez com esforço possa ser otimista um dia.


Demos “vivas” às possibilidades I

Viva todas as possibilidades que podemos cultivar!
Todos os vivas são gritos.
Muitos dos gritos é arte dissimulada.
Viva a todas as possibilidades realizáveis.
Viva a possibilidade de viver e de morrer.
Viva a possibilidade de subir ou descer.
Viva a possibilidade de andar ou correr.
Viva a possibilidade de poder ficar parado.
Viva a possibilidade de ficar marginalizado!
Viva a possibilidade de etc.
Viva a probabilidade do meu evento não ocorrer.
Viva a probabilidade do carrasco ser sabotado.

Esperança é o culto à possibilidade,
Por isso é a última que morre.
Todo fervor e vigor têm esperança
E saúda a vida das possibilidades.
Com vivas e vivas!
Com aleluias, glórias e améns.
Onde todos os ensaios filosóficos
Afanam-se em relatar
E catalogar finitamente
As possibilidades.
Já me catalogaram
O suficiente
Para me julgar...
Já catalogaram
Inúmeras possibilidades
Sem nexo com a totalidade.
Já catalogaram quase
Todas as minhas forcas.
Já catalogaram quase
Todas as metafísicas.
Já catalogaram quase
Toda a minha irracional vontade.
Já catalogaram quase
Todas as minhas possíveis condenações.
Já catalogaram quase
Todas as possibilidades:
O suficiente
Para me assassinarem.


Demos “vivas” às possibilidades II

Posso aqui defender
Uma tal moral,
Uma religião ou credo,
Uma política ou
Um anarquismo;
Posso divulgar
Em crítica, um objeto arte.
Posso defender
Maquiavel
Ao príncipe;
Posso defender
Maquiavel
Ao povo.
Posso defender
Você ou eu
Da condenação.

Se me pedir com amor
Posso descrever
Ou dissertar;
Escrever ensaios
Ou três livros
Sobre o assunto.
Se preferir
Afanaria-me
Para decapitá-los.
Tolheria tudo
O que te incomoda.

Na redenção de tudo
O que é mortal
Posso aqui
Tratar verdades absolutas,
Tratar verdades absurdas.



Algoritmo da Natureza

Cessou agora seu encargo de louvor ao magnífico supremo.
Serás encaminhado ao Deus de todas as potências, que acolhe os justos que promovem as leis, os fracos que esperaram a justiça e todos os outros também. Ao seio divino (dom da gênese, fluxo de dor, de esperança e o apocalipse de todos os seres: o alfa e o ômega de todos os que não fizeram nada na vida que não seja humano, demasiado humano), invoca-se a alegria eterna ou angústia findada aos seres que nasceram, ato esse de materializar angústia que antes pairava no universo como um vapor, algo necessário na complexidade do algoritmo da natureza.
Você juntou-se ao que há de sagrado em toda a criação. Vibre agora como a mecânica orgânica!
Fluindo em toda as camadas subterrâneas, revelando-lhe o prazer de servir o fruto-alimento; grande é o dia da colheita, dissemina moléculas em um grande raio centrado em sua origem fúnebre.
Vibre na órbita da superfície terrena como a lua observa a gravidade; e se preferir, fragmente-se para explorar outras galáxias.
Cessou agora seu encargo de louvor ao magnífico supremo.
O tempo vibra em sua freqüência, sequêncionando e pulsionando eventos de fluidos, sangues vermelhos e azuis, urinas e neurônios, licor e vinho, sêmem e adrenalina, por um fio semicondutor, que talvez um intestino, jogando para o cosmo infinito o que não absorve!
Sem consciência de seu poder ou de sua estrutura cabal você é agora a própria lei da natureza. A volta à forma mais estabilizada de uma seqüência lógica da suprema lei divina. Seqüência essa, que em determinadas ocasiões dependente de fatores não tão constantes, caóticos e em comunhão com a grande e infinita lei divina, dobra-se em forma de cone criando em sua extremidade uma dimensão em forma de bolha, onde são geradas muitas seqüências subjetivas: racionais, sensitivas e emotivas que se relacionam entre si.
Esse é o algoritmo da Natureza. Um ensaio na construção da teoria do tudo ou a invenção da matemática subjetiva.







Segunda Parte:

Dias de Poesia dos Diabos


Viver: um culto à morte


(VIDA CLAMANDO PELA MORTE)
-Irmã espiritual

(MORTE PENSANDO)
-Que patético
Sonso
carente
Tedioso
Repetido
Sempre uma merda

(VIDA)
-Irmã espiritual
Você está tão longe

(MORTE)
-Sonso
Repetitivo

(VIDA)
-Irmã espiritual
(Ela me possui
Poço de orgulho
Presença viciosa)

(MORTE)
-Que sacrilégio
Chato
Não preciso dele

(VIDA)
-Irmã espiritual
Preciso do seu beijo

Fortificação

Depois de todas as suas diversidades de personalidade,
Por obra de seu deus,
Conseguiu se dividir em dois.
Um deles é extremamente racional.
Hoje acordou com uma certa
Leveza de espírito;
Abriu a janela do quarto
Preferindo não ligar o ar-condicionado.
Dá graças a seu deus
Sentindo-se rejuvenescido
E sarado ao olhar-se no espelho.
Isso não acontece sempre:
Alguns dias acorda fudido...
E assim, mutila partes de seu corpo;
Derrama sangue em oferendas;
Pede perdão por faltas cometidas;
E enfim, espia todos os seus pecados.
O outro é muito emotivo...
A fragilidade de um homem.
Dizem que ele é insano.
Mas ele exercita os músculos
Sempre fazendo horas de malhação.
(Um ritual de fortificação do seu eu chapado).


Uma mulher I

Ela não sabe que estou sempre próximo
Não vou agir contra seu senso de liberdade
Às vezes penso que está sempre chapada
Finge mil manias humanistas

No outro dia ela disse:
Hoje não vou agir com a razão!



Uma mulher II

Você sabe que tem beleza!
Você sabe que tem força?
Você esconde a selvageria
Nessa mania de ser meiga!

Nação de velas

Eu passei andando por ela...
Estava solitária e melancólica
Em uma parada de ônibus.
Seu decote mirava para cima.
Seu tórax curvado para dentro.
Seu olhar para o horizonte
Em tensão esperando sua linha.
Se não tem o dinheiro da passagem
Ela vai andando para casa
Ou vai seduzir alguém?
Seu decote mirava para cima,
Estava solitário e melancólico.
Todo o seu poder concentrado ali...
Querendo chegar em casa.
Uma mulher de peito...
Belos seios ela tem,
Solitários e melancólicos.
Vejo uma nação de velas em nós,
Uma falta de humanidade,
Uma grande mágoa eterna,
Uma solidez insana,
Uma evolução do amor infantil...

Numa nação de velas
Nada mais tenho que decifrar.
Ela é depressiva
E sua angústia é válida!
Ela é louca,
Esquizofrênica
E feia como um homem.


A paz de uma construção

A chuva caiu atacando a modernidade de novo:
Um brilho de humanidade num dia ameno;
A paz de uma construção com crianças divertidas.
Sem fome ela aparece entre as folhas,
Sem estar me esperando,
Com algo infinito, peculiar e singelo
Nessa destreza com o corpo em uma dança.


VIVER NO INTERIOR

Olhei para a imensidão do céu
Tentando preencher
Com o corpo dilatando-se
Todo o espaço acima.
A chuva caiu!

Peguei o serrote
Afirmando que ia podar
Um velho jambeiro alto do quintal de casa;
Tinha planejado simular um acidente.
Mas desci!

Minha noiva se recusa a ser meu.
A deixei, procurando paz.
Sabemos que tudo tem que ser tão complicado.

Sou fugitivo da cidade.
Vou ser caçador para me alimentar.
Viver no interior!
E ela me dizia:
Você é perigoso com uma espingarda!


Bebedeiras de segunda-feira

Eu já esqueci aqueles dias
De bebedeira em que chego
Onze horas em casa
E começo a escutar sanday
Do Sonic Youth?
Eu já esqueci quantas vezes
Tenho que relembrar as memórias
Desgraçadas de amigos com um sorriso
Na cara?
Eu já esqueci que ela me ama!
E eu tenho que me martirizar,
Me martirizar?

Com esforço para desenhar
Produzo algo de vez em quando.
Falta-me concentração.
Faço traços bruscos e nervosos.
Procuro algum realismo.
Desisto!
Não tenho o que produzir hoje.

Querem entrar no meu mundo?
Uma pessoa passa por mim
Fazendo sinal de beleza.
Balanço a cabeça.

Eu já não tenho o que escrever.
Três pessoas importantes
Já foram embora passando
Pela rua,
Todas desconhecidas.
Uma crente já passou.
Uma família já voltou
Para casa depois
De um dia de lazer.

Uma placa ordena que eu leia:
Não estacione!
Garagem.

Eu já esqueci que não tenho mais o que escrever,
Tenho que matar!
Implodo!


Os dias de campos mais iluminados

Saiu de sua cobertura...
Sorriu quando faltava manteiga,
Mas o pão caiu.
Os campos estão mais iluminados hoje?
As árvores derrubadas alegram
As crianças quando passam em
Caminhões madeireiros.
Correremos todos atrás
Da trilha de poeira levantada.
Subi numa goiabeira de um vizinho...
O combustível não acaba.
O solo pode ser cavado...
Definindo uma direção para o centro.
E profundamente eu subi!
A água do reservatório subiu,
Vendo o vigor da vida
Brincando e distraído.
O que já era solitário e banal
Não esperava agora a hora do café da manhã.


Dias de reconstruir a cova

Minha amada veio de um lugar sagrado;
Trazia para meu lado direito toda sua crença.
Nós brincávamos de consumir o mundo;
Criávamos o caos com amor e fé.
Nossos organismos oscilavam
Em comunhão de vidas débeis;
Vibrávamos consumindo energia
Dos recursos naturais que
Alimentam nossas angústias...
(De amar, de sorrir e de viver...).
Nós brincávamos de destruir o mundo...
Já podemos prever o fim
Do sistema que acolhe nossos arbítrios,
Nossas novas necessidades.
O termino do caos está próximo,
E, estarei com minha amada
Em um lugar sagrado.
Quando os parasitas fenecerem
A Mãe já não possuirá leite suficiente.
Quando ela for se restabelecer
O fim do caos já estará consumado;
Para depois, em sete dias
Deus construir outro mundo.
Sem criar a vida
Para a ordem lhe louvar!


Dias de poesia dos diabos

Um viveu como devia morrer,
Reunindo em si todos os diabos.
Mesmo alguns deles faltando
Começa o grande dia da poesia...
Com suas velas nas mãos
Em torno do defunto maldito...
Principiava o diabo da dor eterna
Para expandir a percepção;
Terminando com diabo do eterno retorno
Repetindo sempre as mesmas angústias...

Os diabos que faltam
Nunca escreveram uma poesia!
Um deles é o diabo da criação
Que brinca com a inteligência dos vivos
Levando-os de um lado para outro.
Outro viveu como devia morrer!
Começa então novamente o grande dia da poesia...
Principiava o diabo da dor eterna
Terminando com diabo do eterno retorno.
Viva o dia de poesia dos diabos!

Assim falou a Esterilidade Metafísica!

Fuga do paraíso

Se você quer preservar amigos
Não fale sobre suas alegrias
Fale sobre a dor
Conte uma piada para animar
Seja sarcástico
E convide-os para fugir do paraíso


Vermelho de ódio nos olhos

Meus olhos vermelhos de ódio,
Contra nada...
Contra o alvo na parede do meu quarto!
Com momentos de resignação eu vejo o futuro.
Meus pais sabem disso,
Mas na verdade têm muitas dificuldades
Para ver essa minha certa lucidez e clareza de pensamentos!
O que era angústia
Agora é confusão.
O que era sabedoria
Agora é angústia dissimulada.
Ta tudo errado!
Ta tudo diferente!


Pássaro que cai

Tenho contrato com a tristeza
E tantas dores que ninguém deve saber.
De minha cabeça os cabelos crescem para baixo!
A canção deve ser melancólica
Com toda a natureza cantando lúcida.
Ao centro o diálogo do ar com o mar
E meus ossos a dizerem que estou perturbado,
Vivendo como o passarinho
Que não comete suicídio caindo.


Voltando para casa

Depois de tanto tempo
Se humilhando
Para saber a verdade
Assim ela disse:
Hoje eu acredito
Na verdade dos loucos

Assim eu fiz:
Corri atrás de um doido
Que andava falando
Em voz alta nas ruas
Para ter um diálogo
E assim ele respondeu:
Eu gosto é de conversar sozinho!

Somente meu pai sabe
O que devo aprender

Eu nunca aprendo

Talvez eu não seja
Tão inteligente

Já perdi minha querida
A mulher destinada a mim

Talvez eu ainda não tenha aprendido
A ultima lição que ela deixou:
Acostuma-te com a dor
E saiba
Que todo mundo deve ter
Pelo menos uma

Sorria como o bêbado
Que caminha
Voltando para casa
Olhando para baixo

A iluminação veio até mim
E desde então tenho dormido
Com as mãos ao peito
Como um defunto
Que Procura sinal de vida



O ultimo poema

Preciso de um outro corpo
Para preservar a grandiosidade
Do meu espírito estéreo,
Para dar continuidade a essa luta
De autodestruição.



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